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Channel: Subentenda
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Dorme aqui, já é madrugada…

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Talvez haja alguém dentro de mim que só exista nas palavras desta carta. Existem muitas coisas que ainda não sei dizer porque há muita coisa que não sei viver, não por medo, mas talvez por nunca encontrar um lugar pra poder existir.

Eu não sou a melhor pessoa em sentir, nem em me expressar com sinceridade mas quando converso com você é diferente. É diferente porque é difícil explicar, eu sei, já disse isso, mas se for pra tentar definir hoje eu percebi que você me faz se sentir diferente. Eu gosto do jeito que você fica sem jeito quando eu pergunto algo porque parece verdadeiro, eu gosto porque você me faz sentir.

Eu queria muito saber como iria me sentir quando te olhasse nos olhos, pra falar de nada ou pra perguntar sobre quem podemos ser. Eu senti que você tem medo.

Quem eu sou pra você eu realmente não sei, mas se eu não entendi completamente errado, eu sou importante nesse momento, ao menos nesse momento. Eu não sei como te dizer que você também é pra mim, muito menos onde isso pode chegar. Não quero pensar agora, só sei que a muito tempo não me sentia assim, disfarçando a timidez e me controlando pra não demonstrar nenhum ciúmes perto de você.

Não sei definir em palavras esse sentimento, porque não pensei que me sentiria assim, com essa vontade de deitar a cabeça no seu colo, sentir sua mão no meu cabelo, sem querer saber de mais nada, sem querer entender nada, sem querer pensar que pode ser a primeira e a última.

Eu vim até o seu encontro, pra te ver, eu vim por saudade, por sentir vontade de ter você por perto, pra saber como eu me sentiria principalmente. Se eu te faço pensar que não é tão tudo por você, lembre-se do começo da carta.

Se eu tenho sentimentos por alguém hoje é por você, sim, por você. Queria conseguir te dizer isso em voz alta, mas por sentir isso tudo se torna tão mais difícil. Se eu penso, se eu leio algo que fala sobre sentimentos eu tenho me lembrado de você, muitas músicas me lembram você, não sempre por elas, mas porque eu tenho pensado muito em você ultimamente.

Isso não me faz bem mas não me faz mal. Eu comecei a me pegar querendo dividir coisas minhas com você, como momentos dos dia-a-dia, momentos, acontecimentos que gostaria de ter sua presença, mas a realidade é que você não está lá. Essa distância. Queria por toda culpa nela.

É diferente, porque eu sei que seus sentimentos são de outra pessoa e que não é em mim que você pensa assim. Muitas vezes você até me dá sinal de que eu não sou a pessoa que conseguiria te fazer tão feliz como você deveria ser, mas ao mesmo tempo, às vezes, quase posso acreditar que você só tem medo de gostar, de sentir algo, de viver algo, de se envolver comigo e que esse medo, essa ansiedade, esse pessimismo só antecede um sofrimento que nem ainda sei se te causaria. Por que antecipar um futuro assim, sem ter vivido ou sentido o suficiente do presente pra saber como seria?

Ah, como eu queria que você se expressasse mais, suas dúvidas principalmente, que você se soltasse mais ou confiasse em mim. É muito nervosismo disfarçado, muita ansiedade contida, muita proteção e pouca verdade. Mas hoje, tão perto te vi mais distante que nunca, nunca mesmo. Eu teria motivos suficientes pra ter ido embora sem deixar nenhum rastro, mas eu preferi ficar… Eu também tenho meus medos.

Hoje eu preferi ficar por perto, não por racionalidade mas por vontade mesmo, algo raro que ainda não sei descrever. Hoje te ver foi o acontecimento que mais mexeu com os meus nervos desde muito tempo, e eu sempre vou guardar as cenas, a maneira como nos olhamos e como evitamos olhar, os erros pelo nervosismo, os acertos pelo acaso, as palavras que não deveriam ter sido ditas, e principalmente as que nunca foram pronunciadas. Há muito tempo eu não me lembrava como era me sentir assim por dentro, em nervos, sem controle, vulnerável, um ser vivo.

Hoje eu vou perder o sono com seu perfume, enquanto te escrevo essa carta, enquanto vejo você dormir pela pouca luz que entra da janela, e eu vou ficar achando essa imagem a mais inesquecível por tanto tempo. Não ouso nem tentar adivinhar o que você está pensando ou sonhando. Mesmo querendo te abraçar, perturbar seu sono, te fazer ver como estou por dentro, te fazer entender que estou aqui totalmente por você, eu não consigo fazer nada além de te escrever essa carta.  Em respeito a sua dúvida, em meio a todas a minhas incertezas, sem condições de dizer nem fazer algo. Em choque.

Quanto a mim cabe o que sei, você é o maior limite emocional e irresponsável que já me permiti sentir, um dos maiores riscos que já corri, uma das viagens mais pensadas que já fiz. Teria tudo pra ser meu maior arrependimento, mas não foi e nem vai ser, independente do amanhã. Eu vim de encontro ao abismo que sempre evitei, ao medo de pular, ao medo de não ter motivos pra sentir e mesmo assim continuar sentindo e sentir muito mais que poderia prever.

Eu vim ver tudo dar errado porque eu tenho medo que dê certo. Eu atrás de uma resposta simples, e já mal amanheceu me vejo com tantas outras perguntas. Eu vim pra me dizer que não posso, mas não consigo dizer que não quero, eu quero e muito. Eu sinto raiva, eu sinto medo, eu sinto angústias, eu sinto vontade, eu sinto tantas emoções ao mesmo tempo que não sei lidar.  Eu preciso tanto que você se importasse agora que não sei falar nada.

Acho que essa é a melhor forma que consigo te agradecer por hoje, tentar te dar em palavras o que você me deu em novas, diferente e inesquecíveis emoções. Está tudo tão confuso que amanhã eu não prometo não te odiar e desejar nunca ter te conhecido. Eu não consigo te entender muito menos prever.

Está certo quem disse pra não vir aqui, por achar que existiram sentimentos não demonstrados, ocultos, disfarçados e que tudo isso poderia nos faria se sentir mal, que poderíamos tentar demonstrar o oposto com medo, poderíamos ir embora a qualquer momento sem dizer nada, nem adeus.  Está certo também quem disse que por ter sentimentos isso poderia fazer muito mal, porque já faz. Mas quem pode ter medo de sentir? Quem pode ser alguém  de verdade quando se tem medo de sentir, de se encarar?

Seja o que aconteça eu preciso me enfrentar, lidar com você, lidar com o que vai contra meu controle, contra o mais simples, o mais fácil, contra o que acredito ser certo, contra tudo que me tira do meu sossego. Só assim eu vou me conhecer de verdade ou me reconhecer, quando você testa minhas minhas emoções, porque você consegue testa-las. Você me afeta, e a verdade é que não há como me proteger de sentir. Se eu respondo com agressividade ou com carinho, já não sei, mas nada muda o fato de que me afeta e muito.

Mas realmente, eu não faço ideia do que vai ser amanhã e o que seremos um ao outro, mais próximos ou novos estranhos? Se fosse pra escolher, acordaria com você me dizendo algo, me trazendo café, me pedindo pra ler o que tanto escrevi ao seu lado, se era sobre você…

Só o amanhã pra dizer se você é o lugar onde é possível existir, se é por muito tempo ou foi só um momento.

 

[Dona Geo]


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